domingo, 26 de setembro de 2010

Transtorno de Personalidade Borderline?

Hilton Marcos Villas Boas [ psiquiatra ]

Para entendermos o que é o Transtorno de Personalidade Borderline, inicialmente devemos entender o que vem a ser um Transtorno de Personalidade. Os Transtornos de personalidade caracterizam-se por atingirem de uma forma geral, todas as áreas do cérebro, que de alguma maneira influência na personalidade do indivíduo, ou seja, no seu comportamento social, na sua maneira de expressar as emoções e na concepção de ver o mundo. Podemos dizer que os portadores desse tipo de transtorno, possuem uma adaptação inadequada à vida, que normalmente vão acabar, em algum momento, prejudicando a si mesmos e/ou aos que os cercam. Atualmente a melhor maneira de entendermos tais transtornos, além das características acima citadas acima, tidas como principais, é estudarmos os subtipos de transtorno de personalidades patológicas, porque podemos nos deparar, com situações diferentes e até mesmo antagonistas, para tais transtornos. 

Portanto, o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), também conhecido como Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL), apesar de poder ser traduzido como “fronteiriço”, necessariamente não se refere à fronteira entre um estado de sanidade mental considerado “normal”, e um estado psicótico. O termo borderline (fronteiriço), é empregado nesse caso em específico, para definir um indivíduo com uma instabilidade constante do humor. 

A sua prevalência na população geral, não é considerada alta, por exemplo, nos EUA estima-se que tal transtorno, acomete por volta de 02% da população, com uma frequência bem maior no gênero feminino.

Os portadores do TPB apresentam um quadro clínico, com uma “riqueza” de sintomas e sinais, dentre os quais relacionamos abaixo, aqueles que consideramos de maior importância para o conhecimento, dos leitores, ressaltando que para um diagnóstico de TPB, não se faz necessário o indivíduo ter todos esses sintomas:

- medo absurdo de ser abandonado (sentimento interno de um exagerado temor, chegando mesmo a ser angustiante, o sentimento de nunca se sentirem sozinhos, rejeitados e/ou sem apoio);  - muita inabilidade ou dificuldade em administrar suas emoções; - impulsividade; - humor exageradamente instável (ansiedade, irritabilidade, auto e hetero agressividade, depressão, ciúme doentio), com flutuações que podem ser de minutos, horas até dias, diferentemente das que ocorrem no Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), que demoram muito mais para ciclarem de um quadro depressivo, para uma euforia; - comportamento autodestrutivo (se: machucar, cortar e/ou queimar); - possibilidade de tentativas de suicídio, sendo nesse transtorno, a tentativa de suicídio mais por um impulso, do que aquela planejada; - mudanças frequentes de: curso, atividade profissional, projetos pessoais, círculos de amizade e de opinião; - autoestima baixa, pois são indivíduos que se acham sempre desvalorizados, com um vazio existencial imenso, incompreendidos e nada do que fazem é bom o suficiente; - a visão de si mesmos é muito complexa, não tem objetividade; - são pessoas de uma imensurável impulsividade; - apaixonam-se fulminantemente, com uma velocidade incrível, assim como também se desapaixonam; - da mesma forma que se apaixonam, desenvolvem uma admiração por alguém, instantaneamente, e na mesma velocidade se desencantam com a mesma pessoa; - são muito sensíveis a qualquer possibilidade de serem rejeitados (qualquer pequena rejeição pode ser um estopim, para um verdadeiro caos emocional); - a confusão criada entre o desejo por alguém, e a não correspondência desse alguém, em atitudes comuns do cotidiano, pode ser o suficiente para um relacionamento muito conturbado, e até para o rápido rompimento do relacionamento, e o rápido envolvimento em um novo relacionamento, com as mesmas expectativas de correspondência; - muito raramente surgem episódios de psicose, como a sensação de estarem sendo satirizados, injustiçados, perseguidos, observados etc.. 

Além dos sintomas acima, vale registrar que os portadores de TPB, em relação população geral, possuem um aumento de risco para terem como comorbidade (outra doença associada): transtornos alimentares (comer compulsivo, bulimia nervosa, anorexia), sexo promiscuo, violência sexual, comprar compulsivo, depressão, transtornos de ansiedade, transtorno afetivo bipolar, abuso de substâncias, violência, abusos e abandonos (devido à impulsividade, que não permite um senso crítico mais acurado, para a convivência com parceiros) e outros transtornos de personalidade.

A etiologia (causa), que origina tal transtorno, assim como nas demais patologias psiquiátricas, não é apenas uma, mas sim um conjunto de fatores (multicausal). A genética, como sempre esta presente, o indivíduo já vem com uma predisposição individual para desenvolver o transtorno, que associada a experiências psicológicas negativas na infância (maus tratos, negligência, abuso sexual, pressão psicológica negativa, órfãos, pais separados) e um ambiente social desfavorável, formam um campo fértil para o afloramento do transtorno. 

O início do TPB, normalmente ocorre com a manifestação dos primeiros sintomas, associado ao final da adolescência e início da fase adulta. 

Quanto à evolução clínica do TPB, podemos considerar que são fatores de melhor prognóstico: uma boa estrutura de relacionamento familiar, profissional, afetivo; socialmente ser um indivíduo participativo de clubes, associações artísticas, culturais/esportivas, igrejas, e outras atividades afins; ausência ou baixa prevalência de auto ou hetero agressividade; ausência de tentativa de suicídio; ser casado; ter filhos e ausência de promiscuidade.

Um comentário:

  1. Olá, por favor contacte-me, estou a precisar de ajuda... chiponga@hotmail.com. Obrigada

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