sábado, 7 de julho de 2012

Falta de férias pode causar problemas cardiácos e depressão


Pare um pouquinho, descanse um pouquinho... Seu corpo precisa e a cabeça também

Períodos de descanso liberam neurotransmissores como a citosina e a dopamina, fundamentais para o bom funcionamento do organismo

LEONARDO QUARTO - GAZETA ONLINE

foto: Divulgação
editoria vida: estresse trabalho
O excesso de trabalho traz sérios danos à saúde física e mental
O direito a férias é garantido aos trabalhadores brasileiros desde que foi criada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943, por Getúlio Vargas. Porém, atualmente é comum trocar os preciosos dias de descanso por mais trabalho, seja no emprego formal ou em algum bico para incrementar a renda. Acontece que esta prática pode ser bastante prejudicial a saúde.

Especialista em felicidade e desenvolvimento humano, a psicóloga Angelita Scárdua é enfática: abrir mão do descanso pode causar danos a saúde mental. “Nossa rotina diária possui vários fatores que prejudicam o bem estar. O trânsito que enfrentamos, os horários definidos, o próprio ritmo da vida cotidiana. Estas pequenas tarefas geram estresse. De certa forma, ele é tolerável no dia a dia, mas o acúmulo disso pode representar um risco”, explica.

A acumulação desses problemas pode gerar um quadro de ansiedade, além da sensação de estafa física e emocional. Angelita Scárdua destaca que as férias oferecem uma oportunidade única de descansar a mente. “Esse papel não pode ser cumprido por folgas isoladas ou pelo final de semana. Nestes dias continuamos envolvidos com os mesmos ambientes e tarefas. Assim, o recesso não é completo”, acredita.
foto: Arquivo/A Gazeta
Angelita Scárdua: `Mudar de ares deve ser uma opção viável`
Angelita Scárdua: “O cérebro humano se alimenta muito do que é novo. Viver ligado nos mesmos fatos torna nossa cabeça preguiçosa
O ideal para a psicóloga, é se afastar de tudo e realmente descansar. “O cérebro humano se alimenta muito do que é novo. Viver ligado nos mesmos fatos torna nossa cabeça preguiçosa, não nos estimula a criar e aprender mais. Isso faz, inclusive, com que as pessoas tenham dificuldade em focar nos objetivos do trabalho e até mesmo influenciam no humor”, recomenda.

Seu corpo pede descanso

Nas férias, neurotransmissores saudáveis como a citosina e a dopamina são liberados. O corpo humano precisa destas substâncias para ficar mais relaxado e feliz. Do ponto de vista médico, o clínico geral Cristiano Cesana explica que esse período sem preocupações e obrigações deve ser aproveitado para cuidar de emoções. “É a hora de atender nossas necessidades emocionais. O estilo de vida corrido e agitado dos dias atuais não nos deixam tempo para cuidar de nós mesmos”, diagnostica.

Aqueles que mesmo de férias insistem em ficar checando e-mail e mantendo contato com o trabalho todo o tempo podem sofrer desde pequenas dores de cabeça e fadigas até problemas cardiovasculares, infartos e arritmias. “As férias devem ser usadas para se desligar das atividades cotidianas. Não fazer isso pode gerar muitos transtornos mentais. É realmente grave”, alerta Cesana.

Leonardo da Vince só dormia duas horas

A crendice popular diz que o gênio das artes e da engenharia Leonardo da Vince só precisava de duas horas de descanso por dia. Bem, para o clínico geral Cristiano Cesana essa história pode ter um fundo de verdade. “Cada um tem sua característica genética. Alguns precisam de menos horas de sono, possuem uma necessidade fisiológica menor. Há pessoas que com apenas quatro horas de sono vivem bem. Mas isso varia muito. Até a idade tem influência”, detalha o médico.

foto: Guilherme Ferrari
O comentarista Max Gehringer, da Rede CBN e do programa Fantástico, é o convidado especial do último dia de debates da rádio CBN que teve como tema o mercado de trabalho - Editoria: Economia - Foto: Guilherme Ferrari
O comentarista Max Gehringer, da Rede CBN e do programa Fantástico diz que tirar férias é uma questão de saúde
Trabalhar mais não significa render mais

Comentaria da rádio CBN e especialista em emprego e carreira, Max Gehringer explica que existem estudos que comprovam a necessidade de um período de recuperação após o desempenho de atividades geralmente desgastantes. “Conheço pessoas que se orgulham de não tirar férias. E dizem que nunca fizeram isso. Mas isso é exceção. Nós precisamos de descansar. Se ficarmos muito tempo só produzindo, uma hora o corpo vai acusar. É um caso de saúde”, explica.
Glauber Cabral, especialista em recursos humanos, alerta que até mesmo o desempenho dos empregados pode cair caso os mesmos não parem por algum tempo. “Existe um indicador ligado a produtividade que diz que todo ser humano precisa de para um pouco com as atividades laborais. Tanto as de cotidiano como as mensais. Ainda existem empresas que insistem em comprar esse período de descanso. Isso é um erro que pode gerar problemas como faltas não justificadas e até mesmo as justificadas por doença. Por esses motivos é importante parar”, diz.

E as crianças, como ficam nessa história?
    
Por regra, adultos possuem muitas responsabilidades, crianças não. Mas com o grande número de aulas de balé, línguas estrangeiras, karatê e semelhantes os pequenos começam a apresentar quadros de estresse. “De uma forma geral, a criança tem menos informações para processar que o adulto. Assim, muitas novidades aparecem no dia a dia e refrescam a cabeça delas. Porém, existe um alerta. Crianças com muitas atividades podem se estressar tanto quando o adulto. E para elas os efeitos são piores, porque para o desenvolvimento infantil é preciso que as crianças fantasiem mais e criem seu próprio mundo. As férias devem servir para isso”, explica.

Pesquisa divulgada pela revista científica Plos One no início deste ano aponta que trabalhar mais de 11 horas por dia pode dobrar as chances do trabalhador desenvolver algum tipo de depressão nervosa, considerada a versão mais grave da doença. Ainda de acordo com a publicação, que avaliou cerca de 1,6 mil homens e mais de 400 mulheres, trabalhar demais é tão prejudicial quanto desenvolver hábitos de alcoolismo e tabagismo.

O trabalho publicado na revista científica foi realizado pelo Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional e pela Universidade College London sob coordenação da pesquisadora Marianna Virtanen.
Gazeta online

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