terça-feira, 29 de junho de 2010

A geração tolerância - Especial Revista VEJA

Os adolescentes e jovens brasileiros começam a vencer o arraigado preconceito

contra os homossexuais, e nunca foi tão natural ser diferente quanto agora. É

uma conquista da juventude que deveria servir de lição para muitos adultos



Silvia Rogar e Marcelo Bortoloti



Lailson Santos



UMA TURMA COLORIDA

Paulo, William, Marcus, David, Charles, Akira, Jefferson (de pé, da esq. para a dir.); e Harumi e Daniele (sentadas): eles abriram o jogo para os pais ainda na adolescência

Longe do estereótipo

"Sempre tive atração por meninas, só que morria de vergonha de me aproximar delas e revelar o que sentia. Precisei de alguns anos para aceitar, eu mesma, a ideia. Foi na internet que consegui arranjar a primeira namorada. Quando a coisa ficou séria e eu quis levá-la a minha casa, contei a meus pais, que, como era esperado, sofreram. Meus amigos também já sabem que sou homossexual. No começo, estranharam. Nunca me enquadrei no estereótipo da menina gay, masculinizada, mas não tenho dúvida quanto à minha opção. O melhor: depois de um processo difícil, isso acabou se tornando natural para mim e para todos à minha volta."

Harumi Nakasone, 20 anos, estudante de artes visuais em Campinas









VEJA TAMBÉM

• Quadro: Sem bandeiras nem passeatas

• Perguntas & respostas: a união estável

de homossexuais



Apresentar boletim escolar com notas ruins, bater o carro novo da casa, arrumar inimizade com o vizinho já são situações difíceis de enfrentar diante do tribunal familiar, com aquela atemorizante combinação de intimidade com autoridade dos pais. Imagine parar ali diante deles e dizer a frase: "Eu sou gay". Não é fácil para quem fala, menos ainda para quem ouve. As mães se assustam, mas logo o amor materno supera o choque do novo. Os pais demoram mais a metabolizar a novidade. A orientação sexual ainda é e vai ser por muito tempo uma questão complexa e tensa no seio das famílias. Isso muda muito lentamente. O que mudou muito rapidamente, porém, foi a maneira como a homossexualidade é encarada por adolescentes e jovens no Brasil. Declarar-se gay em uma turma ou no colégio de uma grande cidade brasileira deixou de ser uma condenação ao banimento ou às gozações eternas. A rapaziada está imprimindo um alto grau de tolerância a suas relações, a um ponto em que nada é mais feio do que demonstrar preconceito contra pessoas de raças, religiões ou orientações sexuais diferentes das da maioria.



Esses meninos e meninas estão desfrutando uma convivência mais leve justamente em uma fase da vida de muitas incertezas, quando a aceitação pelos pares é decisiva para a saúde emocional e mental. Isso é um avanço notável. Por essa razão talvez, a idade em que um jovem acredita que definiu sua preferência sexual tem caído. Uma pesquisa feita pelas universidades estaduais do Rio de Janeiro (Uerj) e de Campinas (Unicamp) tem os números: aos 18 anos, 95% dos jovens já se declararam gays. A maior parte, aos 16. Na geração exatamente anterior, a revelação pública da homossexualidade ocorria em torno dos 21 anos, de acordo com a maior compilação de estudos já feita sobre o assunto. À frente do levantamento, o psicólogo americano Ritch Savin-Williams, autor do livro The New Gay Teenager (O Novo Adolescente Gay), resumiu a VEJA: "O peso de sair do armário já não existe para os jovens gays do Ocidente: tornou-se natural".



Lailson Santos



A mãe torce para que ele ache um bom companheiro

"Aos 16 anos, quando contei à minha mãe que preferia os homens às mulheres, ela ficou possuída de raiva. Eu achava que a notícia não causaria tanta comoção. Não havia aberto o jogo sobre minha sexualidade, mas tinha certeza de que minha mãe já desconfiava. Nunca levava garotas em casa nem falava delas. O dia em que contei tudo, no entanto, foi um divisor de águas para nós dois. A relação ficou muito tensa. É interessante como a coisa, depois, vai sendo assimilada. Ela abandonou o sonho de me ver chefe de uma família tradicional e, no lugar disso, passou a sonhar com um bom companheiro para mim. Isso ainda não aconteceu. Hoje, no entanto, minha vida é ótima. Não escondo das pessoas de que mais gosto o que realmente sou."

Gabriel Taverna, 19 anos, estudante de São Paulo





Os jovens que aparecem nas páginas desta reportagem, que em nenhum instante cogitaram esconder o nome ou o rosto, são o retrato de uma geração para a qual não faz mais sentido enfurnar-se em boates GLS (sigla para gays, lésbicas e simpatizantes) - muito menos juntar-se a organizações de defesa de uma causa que, na realidade, não veem mais como sua. Na última parada gay de São Paulo, a maior do mundo, a esmagadora maioria dos participantes até 18 anos diz estar ali apenas para "se divertir e paquerar" (na faixa dos 30 o objetivo número 1 é "militar"). A questão central é que eles simplesmente deixaram de se entender como um grupo. São, sim, gays, mas essa é apenas uma de suas inúmeras singularidades - e não aquela que os define no mundo, como antes. Explica o sociólogo Carlos Martins: "Os jovens nunca se viram às voltas com tantas identidades. Para eles, ficar reafirmando o rótulo gay não só perdeu a razão de ser como soa antiquado". Ícone desses meninos e meninas, a cantora americana Lady Gaga os fascina justamente por ser "difícil de definir o que ela é". São marcas de uma geração que, não há dúvida, é bem menos dada a estereótipos do que aquela que a precedeu. Diz, com a firmeza típica de seus pares, a estudante paulista Harumi Nakasone, 20 anos: "Nunca fiz o tipo masculino nem quis chocar ninguém com cenas de homossexualidade. Basta que esteja em paz e feliz com a minha opção".



Miriam Fichtner



Não era uma fase

"No início da adolescência, já me sentia atraída por meninas. Aluna de um colégio de freiras, havia crescido ouvindo que o amor entre pessoas do mesmo sexo era algo imperdoável, mas nunca vi a coisa assim. A mim, parecia natural. Aos 14, até tentei namorar um menino. Não funcionou. Um ano depois, quando me apaixonei de verdade por uma garota, resolvi contar a meus pais. Minha mãe repetia: ‘Calma que passa, é uma fase’. A aceitação da ideia é um processo lento, que envolve agressões de todos os lados e decepção. Sei que contrariei o sonho da minha família, de me ver de grinalda e com filhos, mas a melhor coisa que fiz para mim mesma foi ser verdadeira. Por que me sentir uma criminosa por algo que, afinal, diz respeito ao amor?"

Amanda Rodrigues, 18 anos, estudante de artes visuais no Rio de Janeiro





A tolerância às diferenças, antes verificada apenas no ambiente de vanguardas e nas rodas intelectuais e artísticas, está se tornando uma regra - especialmente entre os escolarizados das grandes cidades brasileiras. Uma comparação entre duas pesquisas nacionais, distantes quase duas décadas no tempo, dá uma ideia do avanço quanto à aceitação dos homossexuais no país. Em 1993, uma aferição do Ibope cravou um número assustador: quase 60% dos brasileiros assumiam, sem rodeios, rejeitar os gays. Hoje, o mesmo porcentual declara achar a homossexualidade "natural", segundo um novo levantamento com 1 500 adolescentes de onze regiões metropolitanas, encabeçado pelo instituto TNS Research International. O mesmo estudo dá outras mostras de como a maior parte dos jovens brasileiros já se conduz pela tolerância em vários campos: 89% acham que homens e mulheres têm exatamente os mesmos direitos e em torno de 80% se casariam com alguém de outra raça ou religião. "À medida que as pessoas se educam e se informam, a tendência é que se tornem também mais intransigentes com o preconceito e encarem as questões à luz de uma visão menos dogmática", diz a psicóloga Lulli Milman, da Uerj. Foi o que já ocorreu em países de alto IDH, como Holanda, Bélgica e Dinamarca. Lá, isso se refletiu em avanços na legislação: casamentos gays e adoção de crianças por parte desses casais são aceitos há anos. No Brasil, onde não há leis nacionais como essas, a apreciação fica sujeita a cada tribunal.



Fotos divulgação



OS GAYS NA ARTE

Homossexualidade contida na tela de Caravaggio (à esq.)

e escancarada na taça romana do século I





Ainda que o preconceito persista em alguns círculos, atingiu-se um estágio de evolução em que professá-lo se tornou um gesto condenável pela maioria - um sinal de progresso no Brasil. Nas Forças Armadas, onde a aversão a gays sempre se pronunciou em grau máximo (apesar de o regimento interno repudiar a perseguição aos homossexuais), a diferença é que, agora, quando surge um caso desses entre os muros do Exército, o assunto logo suscita indignação. Ocorreu com um general que, neste ano, veio a público posicionar-se contra a presença de gays nas Forças Armadas. Sob pressão, precisou retratar-se. Recentemente, o lutador de vale-tudo Marcelo Dourado, 38 anos, surgiu no programa Big Brother Brasil, da Rede Globo, dizendo que "homem hétero não pega aids". Além de uma bobagem, a declaração foi tachada de preconceituosa - e a Globo precisou ocupar seu horário nobre com as explicações do Ministério da Saúde sobre o tema. Mesmo que às vezes usados como bandeira por bandos de militantes paparicados por políticos em busca de votos, pode-se dizer que tais episódios apontam para uma direção positiva. Afirma o filósofo Roberto Romano: "A experiência mostra que o desconforto com o preconceito cria um ambiente propício para que ele vá sendo exterminado".



Miriam Fichtner



Assumidos, mas discretos

"Aos 15 anos, depois de alguns flertes com meninos e nenhuma relação com meninas, conheci meu atual namorado. Apaixonado e angustiado por viver escondido, achei que não havia outro caminho senão abrir a questão para os meus pais. Até hoje, não falamos muito sobre o assunto, mas eles já aceitam a situação, e até levo o Leandro para dormir lá em casa. Às vezes, andamos de mãos dadas, mas não trocamos beijos em público. Não preciso ficar expondo minha sexualidade. Prefiro as boates que meus amigos, gays ou não, frequentam ao circuito GLS."

Victor Guedes, 19 anos, produtor de moda (à esq.), com o namorado Luiz Leandro Caiafa, 20, estudante de ensino técnico no Rio de Janeiro





A notícia de que um filho é homossexual continua a causar a dor da decepção a pais e mães (descrita pela maioria dos ouvidos por VEJA como "a pior de toda a vida"). Com pavor de uma reação violenta do pai, meninos e meninas preferem, em geral, contar primeiro à mãe. "Quando meu filho me disse que gostava de meninos, sabia que os velhos sonhos teriam de ser substituídos por algo que eu não tinha a menor ideia do que seria", relata a analista financeira paulista Suerda Reder, 41 anos. É com o tempo que a vida vai sendo reconstruída sob novas expectativas. Dois anos depois da revelação, o namorado de Victor, filho de Suerda, frequenta sua casa sem que isso seja motivo de constrangimento. Muitos pais já compreendem (com algumas idas e vindas) que, ao apoiar os filhos, estão lhes prestando ajuda decisiva. "Quando a própria mãe trata o fato com naturalidade, a tendência é que o preconceito em relação a ele diminua", diz a estilista gaúcha Ana Maria Konrath, 55 anos, em coro com uma nova geração de mães - também mais tolerantes. O que elas sabem por experiência a ciência em parte já investigou. Segundo um estudo americano, conduzido pela Universidade Estadual de São Francisco, jovens gays que convivem em harmonia com os pais raramente sofrem de depressão, doença comum entre vítimas de preconceito.



Miriam Fichtner

"Nunca me escondi"

"Cheguei a beijar garotas, mas foi só quando troquei o primeiro beijo com um menino, aos 14 anos, que senti uma emoção real. Era tão claro para mim que resolvi contar a meus amigos mais próximos da escola que era gay. A princípio, eles estranharam. Cheguei a ser alvo de olhares tortos e gritos de ‘bicha’, mas logo passou. Quando contei a meus pais, no ano passado, eles no fundo já sabiam. Nunca me preocupei em levar garotas para casa só para me passar pelo que não era. Também não tenho necessidade de ficar me reafirmando gay na frente dos outros. Isso é bobo demais. Para mim, é só mais uma de minhas características."

Hector Gutierrez, 17 anos, estudante do 3º ano do ensino médio numa escola particular de Minas Gerais





Um conjunto de fatores ajuda a explicar o fato de a atual geração gay ser mais livre de amarras - alguns de ordem sociológica, outros culturais. Um ponto básico se deve à sua aceitação por outros adolescentes. Para esses jovens, o conceito de tribo perdeu o valor, como chamou atenção o antropólogo americano Ted Polhemus, por meio de suas pesquisas. Ele apelidou essa geração de "supermercado de estilos" - ou só "sem rótulos". Nesse contexto, não há mais lugar para algo como o grupo em que apenas ingressam os gays ou os negros, algo que as escolas brasileiras já ecoam. Antes fonte de tormento para alunos homossexuais, alvo de piadas, quando não de surras e linchamentos, o colégio se tornou um desses lugares onde, de modo geral, impera a boa convivência com os gays. Um sinal disso é que a ocorrência de casos de bullying por esse motivo tem caído gradativamente. "É também mais comum que eles andem de mãos dadas no recreio, sem ser importunados, ou que se tornem líderes de turma", conta a pedagoga Rita de Cássia, da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. Os próprios colégios reconhecem que, no passado, conduziam a questão à sombra de certo preconceito. "Se surgia um aluno gay, tratava-se imediatamente o assunto como um problema, e os pais eram logo chamados", lembra Vera Malato, orientadora no Colégio Bandeirantes, em São Paulo. "Hoje a postura é apenas dar orientação ao aluno se for preciso."



"Meus sonhos precisaram

ser reconstruídos"

"Acho que toda mãe percebe, a contragosto e com dor, quando seu filho é gay. Sempre tive certeza disso em relação ao Igor, mas alimentava esperanças de que ele mudasse. Cheguei a rezar anos a fio por um milagre. No dia em que meu filho finalmente se abriu comigo, aos 17 anos, fiquei sem chão. Passado o choque, entendi que meus sonhos em relação a ele precisariam ser completamente reconstruídos. Não escondo mais de ninguém que meu filho é homossexual. Sinto que o fato de uma mãe tomar essa iniciativa ajuda a espantar o preconceito. Sempre que arranja um namorado, ele frequenta a minha casa e saímos juntos. Meu filho está feliz. Não é isso que todos nós buscamos?"

Ana Maria Konrath, 55 anos, estilista gaúcha, mãe de Igor Konrath, 20, estudante de comunicação social Miriam Fichtner







Para boa parte dos jovens gays de hoje, a vida subterrânea nunca fez sentido. Diz o produtor de moda carioca Victor Guedes, 19 anos: "Desde que ficou claro para mim que meu interesse era pelo sexo masculino, não pensei em esconder isso dos meus pais. Só esperei a hora certa para abrir o jogo, com todo o tato". É gritante o contraste com as gerações anteriores, às quais lança luz o livro Cuidado! Seu Príncipe Pode Ser uma Cinderela (a ser lançado pela editora Best Seller), das jornalistas Consuelo Dieguez e Ticiana Azevedo. O conjunto de depoimentos ali reunido revela o sofrimento diário enfrentado por políticos, diplomatas e figurões do mercado financeiro que nunca saíram do armário.



Miriam Fichtner



Ele conta tudo no Twitter

"Solitário, aos 14 anos resolvi dividir com a minha irmã aquilo que já era muito claro para mim: gostava de meninos, e sabia que isso decepcionaria minha família. Ela chorou, disse que logo essa fase passaria, e o pior: contou para todo mundo. Minha família chegou a me encaminhar ao psicólogo. Depois, à igreja. Não foi fácil, mas o alívio de compartilhar a situação me transformou em outra pessoa. Pouco falo sobre meus namoros, e agiria da mesma forma se eles fossem com meninas. Fico, no entanto, bem à vontade para falar de minha vida amorosa no Twitter, no qual tenho mais de 1 700 seguidores. De onde menos se espera às vezes ainda vem uma agressão gratuita, mas a coisa está mudando para melhor."

Lucas El-Osta, 17 anos, estudante do 2º ano do ensino médio no Rio de Janeiro





Ao longo da última década, a indústria do entretenimento tem refletido, de forma acentuada, as mudanças culturais em relação à sexualidade. Na televisão, nunca houve tantas séries retratando o universo gay. Entre as produções de maior sucesso, figuram o seriado americano Glee, que tem como um dos protagonistas um adolescente recém-assumido gay para o pai, e The L Word, sobre um grupo de lésbicas atraentes e chiques de Los Angeles. Nas novelas brasileiras, os homossexuais já não são mais tratados de maneira tão caricatural. "É possível exibir na TV a vida comum de casais gays sem que isso provoque a rejeição do público, como no passado. Hoje, esses personagens fazem o maior sucesso", analisa Manoel Carlos, autor da atual novela das 8, Viver a Vida. Isso não só ajuda a levantar o diálogo sobre a homossexualidade em casa como ainda minimiza a resistência a ela. O rol de celebridades que se assumem gays também cumpre, em certo grau, esse papel. O último a deixar o armário foi o cantor porto-riquenho Ricky Martin, autor do sucesso Livin’ la Vida Loca, que, aos 38 anos, declarou ser gay em tom profético: "Hoje aceito minha homossexualidade como um presente que a vida me deu".



Fotos John Springer/Corbis/Latinstock e Rennio Maifredi/Trunk Archive



O GALÃ E A DIVA

O ator Rock Hudson (à esq.), que manteve casamento de fachada, e Lady Gaga, atual ícone dos jovens gays





A atual geração jamais espera tanto. A idade precoce com que os gays trazem à tona sua orientação sexual chama a atenção dos especialistas. Aos 16 anos, estão ainda na adolescência - uma fase de experimentação e dúvidas. Pondera a doutora em psicologia Ceres Araujo: "Esperar que essa escolha seja eterna para todos é uma simplificação. O que dá para afirmar é que esses jovens têm grande propensão de seguir se relacionando com pessoas do mesmo sexo". Para eles, a homossexualidade está longe de ter a conotação negativa de tantos outros períodos da história. Durante as trevas da Inquisição, arremessavam-se os gays à fogueira. Na Inglaterra do século XIX, eles eram considerados nada menos que criminosos. Em 1895, num dos mais famosos julgamentos de todos os tempos, o escritor irlandês Oscar Wilde, homossexual assumido, foi acusado de sodomia e comportamento indecente. Penou dois anos na prisão. Na Hollywood dos anos 50, o agente do galã Rock Hudson arranjou, às pressas, um casamento de fachada para o ator, com uma secretária. Às voltas com fofocas sobre sua homossexualidade, ele corria o risco de perder contratos. Só em 1985, aos 59 anos e vitimado pela aids, doença que o mataria naquele ano, Hudson se assumiu gay. Num cenário inteiramente diferente, os novos gays não precisam mais passar por esse tormento. Resume o estudante mineiro Hector Gutierrez, 17 anos - típico da geração tolerância: "O dia em que eu contei a verdade a todos foi o primeiro em que me senti realmente livre e feliz".







Recém-saídos do armário

Fotos Jeff Moore/LFI, Marc Larkin/LFI, John Clifton/Zuma Press e Lisa O'Connor/Zuma Press







Reprimidas durante anos, celebridades das mais diversas áreas resolveram vir a público nos últimos meses para assumir-se gays com estardalhaço: da esquerda para a direita, a cantora gospel Jennifer Knapp, o jogador de rúgbi galês Gareth Thomas e o cantor Ricky Martin

sábado, 26 de junho de 2010

Estudo diferencia manifestação mediúnica de doença mental - Ana Cláudia Barros

Segundo professor, estudo avalia somente médiuns ligados ao espiritismo /

Foto: IstoÉ





Qual a fronteira que separa uma experiência mediúnica de um quadro de transtorno mental? O que diferencia um de outro? Ouvir vozes, ter visões indicam, necessariamente, uma manifestação patológica? Foram justamente essas indagações que motivaram um estudo desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).



A pesquisa, que começou a ser realizada no ano passado, tem previsão de conclusão em 2011. Ela é, na verdade, um desdobramento de outra investigação, iniciada em 2001, na Universidade de São Paulo (USP), com o doutorado do professor Alexander Moreira-Almeida. Diretor do Nupes, Almeida é o orientador do trabalho atual.



-Na primeira pesquisa, investigamos 115 médiuns. Pegávamos gente que já trabalhava como médium em grupos espíritas há bastante tempo - explica. De acordo com o professor, foi encontrada uma baixa prevalência de transtornos mentais, menor do que na população em geral, entre os integrandes do grupo estudado.



Nesse segundo momento, estão sendo analisadas pessoas que foram recém -identificadas como médiuns.



-O objetivo das entrevistas é avaliar a presença de transtornos mentais, avaliar características da personalidade, ou seja, avaliar vários traços do funcionamento mental e social, para poder tentar traçar um panorama desse grupo e ajudar pesquisadores e clínicos com dados mais concretos nessa diferenciação.



Confira a entrevista



Terra Magazine - Qual a ideia central do estudo?

Alexander Moreira-Almeida - A ideia basicamente é a seguinte: mediunidade, quando a pessoa se considera estar em contato com alguma força não física, extramaterial ou alguma coisa do gênero. O fato é que esse tipo de experiência apresenta características, como, por exemplo, a pessoa têm visões, ouve coisas que outras pessoas não ouvem, têm a sensação de que há algo influenciando o corpo dela. Esse tipo de vivência é bastante comum na esquizofrenia e em outros quadros psicóticos.

Há uma discussão muito grande sobre qual a relação de uma coisa com a outra. Será que esses quadros chamados mediúnicos seriam, na realidade, quadros psicóticos, esquizofrênicos?



Foi isso que motivou a pesquisa: diferenciar manifestações ditas mediúnicas de quadros de transtornos mentais?

Exatamente. Há algumas décadas, a mediunidade era considerada uma manifestação patológica. Hoje, a psiquiatria reconhece que não é bem o caso. Há pessoas que têm essas vivências religiosas, espirituais e que não são, necessariamente, patológicas. Mas falta ainda determinar, com mais precisão, critérios que nos ajude a separar o que seria uma experiência não patológica, ligada à nossa cultura, a um certo grupo religioso, do que seria uma doença mental. Com base nisso, temos feito uma linha de pesquisa neste sentido.



Quando vocês começaram a trabalhar com essa linha de pesquisa?

O trabalho começou na Universidade de São Paulo (USP), com o meu doutorado, em 2001. Agora, dando continuidade, estou na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), onde coordeno uma linha de pesquisa, com dois alunos de doutorado. Essas duas teses de doutorado começaram no ano passado a coletar os dados.



Que tipo de metodologia está sendo aplicada na pesquisa atual e quantas pessoas foram ouvidas?

Nossa meta é chegar a 120 pessoas. Buscamos pessoas que procuram centros espíritas e lá, é dito para elas que são médiuns. Naturalmente, não entramos no mérito do que seria efetivamente isso ou não. Só estudamos esse fenômeno. São pessoas classificadas por médiuns, pelos próprios espíritas. Aplicamos uma série de testes psiquiátricos e psicológicos para fazer uma avaliação. Estamos fazendo a avaliação agora, para ver, daqui a um ano, como vão se desenvolvendo essas pessoas.



Como são esses testes?

São testes de entrevistas. Testes psicológicos e psiquiátricos. O objetivo das entrevistas é avaliar a presença de transtornos mentais, avaliar características da personalidade, ou seja, avaliar vários traços do funcionamento mental e social para poder tentar traçar um panorama desse grupo e ajudar pesquisadores e clínicos com dados mais concretos nessa diferenciação.



Sei que a pesquisa está em andamento, mas vocês já chegaram a uma conclusão?

Em relação à pesquisa inicial, já temos uma conclusão. Essa outra ainda está em andamento. Na primeira pesquisa, investigamos 115 médiuns. Pegávamos gente que já trabalhava como médium (na atual, são pessoas que acabaram de ser classificadas como médiuns), em grupos espíritas há bastante tempo.

Um detalhe importante: quando falamos em mediunidade, nós não estamos restringindo a apenas um grupo religioso, embora a pesquisa em si, por razões metodológicas, escolheu o espiritismo, por ser um grupo que trabalha de modo mais intenso e mais direto. Classificamos mediunidade como qualquer experiência em que a pessoa se julgue em contato com as dimensões espirituais. Pensando dessa forma, a umbanda, os católicos carismáticos, pentecostais protestantes. Todos esses têm contato com espírito santo, com alguma dimensão... Estamos trabalhando com o espiritismo por ser muito disseminado no Brasil.



Então, vocês trabalharam com 115 médiuns. Qual foi a conclusão?

Pegamos 115 médiuns, frequentando centros espíritas de São Paulo, mas eram médiuns que atuavam a bastante tempo como médiuns. Traçamos um perfil psiquiátrico dessa população e, basicamente, encontramos uma baixa prevalência de transtornos mentais. Menor do que encontrado na população em geral.



Qual a avaliação que vocês fizeram em cima desse resultado?

Esse é o primeiro resultado. Ainda há outro resultado importante, que medimos a adequação social, para ver quanto desses indivíduos eram bem ajustados socialmente, no trabalho, na família, na vizinhança. Também evidenciou um bom ajuste social. O mais importante: não havia relação entre a intensidade dessas vivências mediúnicas e problemas de ajustamento social ou de sintomas psiquiátricos. Ou seja, eram coisas separadas.

Foi o primeiro estudo com amplo número de pessoas e metodologia rigorosa, que investigou a saúde mental de médiuns. Basicamente, o que nós concluímos... O primeiro dado, que mostra de modo objetivo, usando metodologia padrão, internacional da saúde mental, desses médiuns, pelo menos esses, que estão frequentando e trabalhando há bastante tempo em grupos espíritas, revela que eles têm uma boa saúde mental, que essa vivência deles, embora, a princípio seja semelhante a um quadro psicótico, não é a mesma coisa. São coisas diferentes que precisam ser melhor estudadas.

A partir disso, então, estamos fazendo esse segundo momento de pesquisa, dando continuidade nessa linha, para ajudar a separar essas questões.



Quais os critérios que vocês estão usando para diferenciar uma experiência espiritual de uma manifestação patológica?

A pesquisa não entra no detalhe do que seria uma experiência espiritual. Estamos apenas separando se é uma vivência patológica ou não. Ou seja, se é um real contato com o mundo espiritual, se é uma coisa que o inconsciente da pessoa cria ou não. Nós não estamos investigando isso nessa pesquisa atual.

Temos projetos de avançar nessa questão também. Nessa pesquisa, estamos investigando o que seria uma experiência religiosa, mística, não patológica do que seria um quadro psiquiátrico. Não estamos entrando no mérito de qual seria a causa dessa vigência espiritual, que é um detalhe importante.

Para considerar como doença mental, estamos usando critérios diagnósticos psiquiátricos utilizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Estamos utilizando qualidade de vida dessas pessoas e adequação social. Na realidade, estamos testando alguns critérios que têm sido propostos na literatura médica. A gente publicou, recentemente, um artigo na revista de psiquiatria clínica da USP, levantando novos possíveis critérios que fariam essa diferenciação. Estamos testando esses critérios.



Quais seriam os critérios?

Entre os critérios está, por exemplo, a ideia de que a pessoa tem a vivência, mas esta não causa sofrimento para o indivíduo. Outra, essa vivência não causa prejuízo para o funcionamento social, profissional da pessoa. Outro critério seria que a pessoa tem controle sobre essa vivência. Mais um critério seria a pessoa não ter outros sintomas de doença mental, além dessas vivências , ouvir, ver...





Terra Magazine

domingo, 13 de junho de 2010

Voo para longevidade - Revista Vida Natural e Equilíbrio

Viver mais e com saúde é algo que os cientistas estudam há anos. Algumas pesquisas têm apontado hábitos que podem fazer a expectativa de vida aumentar. Para que você chegue aos 100 anos, exploramos alguns desses itens e incluímos outros. Confira nossas 10 dicas


POR JAMILLE MENEZES / FOTOS: SHUTHERSTOCK


1. Pratique exercícios físicos




Não dá para escapar. Dez entre dez médicos dizem que a prática de exercícios é importante para qualquer um que queira se manter saudável - seja qual for a idade. Além de melhorar o sistema imunológico e ajudar a controlar obesidade, estresse, hipertensão, colesterol, entre outros males, movimentar-se aumenta a qualidade e a expectativa de vida.



Um estudo inglês da University of Nottingham Schools of Graduate Entry Medicine and Biomedical Sciences mostrou que, à medida que envelhecemos, torna-se mais difícil manter o tônus muscular. Isso diminui a força e aumenta a probabilidade de quedas e fraturas.



De acordo com pesquisas, quatro tipos de exercícios são importantes para a saúde: de força, equilíbrio, alongamento e resistência. Os de força constroem músculos e aceleram o metabolismo, ajudando a controlar o peso; os de equilíbrio previnem quedas, responsáveis por torções e fraturas, especialmente em idosos; os de alongamento proporcionam maior flexibilidade nos movimentos; e os de resistência melhoram os batimentos cardíacos e a respiração. O ideal é fazer um pouco de cada. "O exercício físico programado, orientado por profissionais, é sempre benéfico em qualquer faixa etária, especialmente na terceira idade", conta a fisioterapeuta Heloisa Guerra, de São Paulo.


2. Coma aveia e linhaça




Uma dieta da longevidade precisa ter alimentos que atuam contra os radicais livres, aqueles compostos que danificam as células e causam o seu envelhecimento precoce. Eles também provocam doenças como câncer, catarata, artrite, mal de Alzheimer e problemas cardíacos.



Um dos alimentos que combatem a oxidação causada pelos radicais livres é a aveia. Ela contém antioxidantes que dão sobrevida às células, como a vitamina E, o tocotrienol, o ácido ferúlico e o ácido cafeico. As fibras desse alimento também atacam as gorduras que bloqueiam as artérias, diminuindo o colesterol. Além disso, ajudam a melhorar o sistema imunológico, controlando mais rapidamente as infecções.



Outro aliado poderoso a favor da longevidade é a linhaça. O grão é rico em ácidos graxos do tipo ômega-3 que, como esclarece a nutricionista Samantha Macedo, de São Paulo, "também exercem uma ação de renovação celular". Ela ensina que a melhor maneira do organismo aproveitar os benefícios desse alimento é triturando-o. Em relação à quantidade recomendada, a nutricionista indica em torno de duas a três colheres (sopa) por dia.

3. Exercite o cérebro




Se é a massa cinzenta quem comanda as funções do corpo, ela também precisa estar em forma. Um estudo realizado pela Faculdade de Medicina do Bronx, nos Estados Unidos, comprovou que as atividades que mantêm o cérebro ativo, como ler, escrever, montar quebra-cabeças ou jogar cartas podem retardar a degeneração cerebral que acontece com a idade, como a perda da memória, e ainda prevenir a demência.



Com o desenvolvimento da neurociência, hoje se sabe que as células nervosas podem fazer novas conexões cerebrais capazes de compensar perdas ocorridas, criando novos padrões neurais. É necessário, portanto, estimular a cuca para compensar as baixas naturais, que acontecem com o passar dos anos. Os cientistas sugerem dois tipos de exercícios. Um deles são os jogos que estimulam o raciocínio, como palavras cruzadas, sudoku, quebra-cabeças, entre outros. Outra forma é exercitar a massa cinzenta executando as tarefas diárias de maneira diferente da habitual, como vestir-se com os olhos fechados, usar o mouse ou escovar os dentes com a mão não dominante, tomar banho de olhos fechados, entre outros. Segundo os estudos, isso fortalece, aumenta as conexões, melhora a agilidade e a flexibilidade cerebral

4. Adote um animal de estimação




O que histórias como a do cãozinho Marley, a do gato Dewey ou ainda a do Akita, que todo dia esperava o dono na estação, têm em comum? Além de, claro, emocionarem, mostram como a relação dos donos com seus animais de estimação influenciou suas vidas.



Algumas pesquisas têm demonstrado como a companhia desses bichinhos afetam o desenvolvimento psicológico, social e na qualidade de vida das pessoas. Os primeiros estudos sobre os benefícios da convivência com os animais começaram na década de 1960, nos Estados Unidos, com os psiquiatras Boris Levinson, e Sam e Elizabeth Corson. Eles observaram que os pacientes que recebiam visitas de cachorros, gatos e outros animais tinham um progresso mais rápido na recuperação de doenças.



Estar ao lado desses amiguinhos também ajuda em tratamentos emocionais. Passar algum tempo com eles funciona como uma terapia. Nos Estados Unidos, por exemplo, existem programas chamados PAT (Pet is a Terapy), em que animais são levados para visitar doentes, pessoas desamparadas, crianças com doenças crônicas e idosos.



A sensação de alegria que os pets transmitem libera endorfina ao cérebro. Esse hormônio é capaz de relaxar o ser humano, colaborar com seu bem-estar, controlar a pressão sanguínea e melhorar o sono. Em relação aos idosos, alguns estudos indicam que o convívio com os animais faz com que a qualidade de vida deles aumente, assim como a sua longevidade. "O simples fato de encostar no cachorro já resulta no relaxamento do corpo", explica o veterinário Daniel Svevo, que é adestrador e consultor da Cão Cidadão.



Leve-os para casa!

Confira quatro sites que vão ajudá-lo a escolher um pet:



www.adoteumgatinho.com.br

www.adotaretudodebom.com.br

www.animaisos.org

www.prefeitura.sp.gov.br/zoonoses


5. Uma maçã por dia...




Médicos e nutricionistas aconselham comer pelo menos dez porções de frutas, verduras e legumes por dia (no total), para manter a saúde e combater o desgaste celular, que nos faz envelhecer. Na escolha dessas frutas, experimente incluir uma maçã.



Um estudo desenvolvido na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, constatou que a combinação dos nutrientes encontrados na maçã é uma grande fonte de antioxidantes, que combatem os radicais livres, já mencionados nesta reportagem.



Veja bem: o fósforo previne a fadiga mental e contribui para a formação de ossos e dentes, ou seja, ajuda a pessoa a se manter sã e previne doenças como osteoporose; o ferro é fundamental para o sangue, evitando anemias - uma doença fatal para quem já passou de determinada idade; e o potássio é importante para a transmissão nervosa, contração muscular e equilíbrio de fluidos no organismo, ajudando a retardar alguns efeitos do envelhecimento. "A maçã vermelha é rica em licopeno, auxiliando na prevenção do câncer de próstata", explica a nutricionista Aline Salvatti, da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp).



Um bom horário para se comê-la é no café da manhã. Qualquer fruta ingerida com o estômago vazio tem seus nutrientes melhor aproveitados pelo organismo. Mesmo assim, coma maçã a qualquer hora do dia. "Ela é rica em fibras e tem muitas vitaminas e minerais. O ideal é comê-la com casca, que é boa para melhorar o funcionamento do intestino", afirma Aline Salvatti.


6. Aprenda a perdoar




Ok, sabemos que isso não é nada fácil, mas é necessário. Longe de ser apenas um discurso sobre fazer o bem, o perdão pode evitar problemas de saúde e trazer mais qualidade de vida. Vários estudos, como um elaborado pela Universidade Stanford, nos Estados Unidos, comprovam que remoer mágoas prejudica mais a vítima do que o ofensor.



Segundo um artigo publicado na revista da Escola de Medicina de Harvard, perdoar quem o chateou pode melhorar seu bem-estar físico e emocional. Além disso, os estudos realizados mostraram que o ato reduz o estresse, melhora a saúde do coração, diminui dores crônicas e deixa as pessoas mais felizes. Por outro lado, os indivíduos que não se libertam do rancor são mais propensos a desenvolver males, como enfarte, hipertensão, depressão, dores musculares e até mesmo o câncer. Segundo os pesquisadores, ficar remoendo a mágoa, faz que as pessoas sejam mais estressadas, depressivas, ansiosas e fiquem até mais sensíveis às doenças.



Um estudo que relaciona o perdão com a saúde física, realizado pela Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, mostrou que aprender a perdoar pode ajudar pessoas de meia-idade a evitar doenças cardíacas. Segundo a psicóloga paulista Rosely Campanini, para chegar ao perdão é necessário primeiro entender o sentimento do outro. "É importante saber o que aconteceu e reconhecer que, assim como o outro tem falhas, você também tem", explica.

7. Durma o suficiente




Um estudo realizado pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, analisou os efeitos da privação de sono em 11 pessoas jovens, com idade entre 18 e 27 anos. Durante uma semana elas foram impedidas de dormir mais de quatro horas por dia. Ao fim desse período, o funcionamento de seus organismos era comparável ao de uma pessoa com 60 anos, e seus níveis de insulina aos de um diabético.



Outro experimento feito pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de Londres, na Inglaterra, relacionou os problemas de sono com os sintomas de depressão. O que se observou é que não é a doença que causa a falta de sono, mas o contrário. Essa relação foi observada em pessoas de todas as idades, até mesmo em crianças. Além da depressão, dormir pouco pode levar a "brancos" na memória, transtorno bipolar, ansiedade, mau humor, problemas cardiovasculares e no sistema imunológico.



De acordo com Fernando Pimentel Souza, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os idosos estão entre os mais prejudicados pelas doenças do sono. "A idade faz que as pessoas não consigam dormir mais do que seis horas de sono contínuo à noite", declara.



Fim da insônia

Para contar carneirinhos, algumas dicas podem ajudar:



Durma em um local arejado, escuro e silencioso.

Pratique exercícios físicos regularmente. Se a atividade for feita à noite, que seja no máximo até duas horas antes de se deitar.

Não durma com fome e não beba muito líquido para não ficar acordando durante a noite.

8. Tenha um hobby




Dançar, pintar, cozinhar, praticar esportes... O que importa não é a atividade em si, mas o prazer que ela proporciona. Fazer algo que goste alivia o estresse, melhora o humor, a criatividade, o desempenho para outras tarefas e nos deixa mais felizes. E pessoas felizes vivem mais.



Um estudo realizado pela Universidade Carnegie Mellon, também nos Estados Unidos, observou que indivíduos alegres são menos propensos a ficarem doentes do que aqueles que demonstram mais insatisfação.



Para quem trabalha muito e vive na correria, um hobby pode funcionar como uma válvula de escape para relaxar. Com a mente descansada, o nosso humor melhora e, consequentemente, nos tornamos mais pacientes e expansivos. As pesquisas mostram também que tendemos a gostar mais de pessoas bem-humoradas, o que conduz à construção de laços de amizade e amor. Ou seja, a longevidade está relacionada a uma vida saudável, e para isso é preciso cuidar bem da mente.

9. Coma chocolate




Para muita gente, adicionar o doce ao cardápio não requer esforço algum, pelo contrário, exige cuidado com a balança! Mas é verdade que o chocolate pode ajudar a garantir mais alguns anos de vida. Segundo a nutricionista Gabriela Guerreiro, da clínica paulista Nutriessencial, o alimento (principalmente o de tipo amargo) contém elementos chamados flavonoides, um antioxidante. Além disso, ele também possui fenóis, fitoquímicos que podem proteger ou evitar doenças do coração e o câncer. E mais: uma das substâncias benéficas que o cacau contém é a arginina, um aminoácido que ajuda na vasodilatação, fazendo que a pressão arterial diminua.



E aqui vai uma boa notícia para as mulheres: "O chocolate estimula a produção da serotonina, que acalma, e também das endorfinas, que melhoram o humor", explica Gabriella Guerrero. E como os homens podem ser beneficiados com isso? Bem, homens cujas esposas ou namoradas têm a TPM sob controle tendem a se estressar menos...

10. Faça mais sexo




Quem o pratica mais vezes tem a expectativa de vida aumentada. Uma pesquisa realizada pela Universidade do Oeste da Escócia concluiu que as pessoas que fazem sexo com frequência não só tendem a viver mais, como têm um coração mais saudável e menor tendência a desenvolver certos tipos de câncer.



Um estudo realizado pela Universidade de Bristol, na Grã-Bretanha, com homens, mostrou que aqueles que mantinham relações pelo menos duas vezes por semana viviam mais do que os que tinham relações menos de uma vez por mês.



Mas a boa notícia também vale para a ala feminina. Um trabalho elaborado com mulheres americanas concluiu que aquelas que declaravam fazer mais sexo tinham uma vida mais longa do que as que não relataram a prática. E ainda: a pesquisa ainda demonstrou que mulheres com a vida sexual ativa têm menores sintomas da menopausa!



Outro estudo, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, analisando a vida sexual de pessoas com idade na faixa dos 70 anos, descobriu que aquelas que morriam antes dos 75 anos de idade haviam encerrado a prática sexual cedo. Mas antes de fazer uma pausa na leitura, saiba que, de acordo com as pesquisas, o que conta não é só o ato sexual em si, mas também a frequência de orgasmos.



Segundo o cardiologista Carlos Alberto de Araujo Chagas, professor do Departamento de Morfologia da Universidade Federal Fluminense (RJ), a atividade sexual é importante, pois ajuda na oxigenação dos vasos sanguíneos, o que beneficia as células do miocárdio. "Como qualquer atividade física, o sexo também desencadeia a liberação de uma série de substâncias ligadas à sensação de bem-estar", explica. "Quem está na terceira idade deve apenas tomar cuidado com a resistência cardíaca."

Ele chegou lá




No Brasil, na cidade de Barbacena, em Minas Gerais, vive o senhor Raimundo Lopes, que nasceu em 10 de março de 1907 e completou 103 anos. Ele afirma que o segredo de sua longevidade é "comer pouco e ficar perto dos familiares". Segundo sua neta, Kátia Lopes, o senhor da foto ao lado adora chupar uma laranja antes do almoço. Na hora da refeição come um pouco de arroz, feijão, macarrão, frango e farinha de mandioca torrada. E mesmo nesta idade não lhe falta disposição. "Ele levanta todo dia às 5h da manhã, varre a frente da casa e espera minha tia ir para o serviço", conta. Seja qual for a receita para viver muito, o fundamental é saber aproveitar bem a vida, pois, como diz o também centenário Oscar Niemeyer, "a vida é um sopro".

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Brasil eleva contraindicação de remédio para emagrecer proibido na Europa

MARY PERSIA - da Folha Online


A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), órgão responsável por regular os medicamentos no país, ampliou a contraindicação para o uso da sibutramina, uma das substâncias para emagrecer mais usadas no Brasil e que foi proibida na Europa.



Emagrecedor tem relação risco-benefício positiva, diz laboratório

Médicos brasileiros são alertados sobre prescrição

Europa suspende venda de remédio para emagrecer

Entidade quer proibição de medicamento nos EUA



O medicamento tem venda controlada no Brasil, com retenção de receita. Além de pessoas com histórico de distúrbio alimentar, aqueles que apresentaram doenças cardiovasculares serão aconselhados a não fazer uso do remédio.



O alerta brasileiro segue a posição norte-americana sobre a utilização do medicamento. Nos Estados Unidos, a FDA (Food and Drug Administration) também ampliou sua contraindicação, estendendo-a igualmente a pessoas com histórico de problemas cardiovasculares (entre eles, a hipertensão).



O motivo é a elevação do risco de infarto e AVC (derrame), demonstrado em um estudo que acompanhou mais de 10 mil pacientes durante seis anos. Segundo a pesquisa, chamada Scout, as chances de eventos cardiovasculares aumentam 16% com a utilização da sibutramina, presente na composição de remédios como Meridia, Reductil, Sibutrex e outros, incluindo manipulados.



A Anvisa realizará em fevereiro uma reunião com a Cateme (Câmara Técnica de Medicamentos), cujos especialistas definirão uma recomendação ao órgão.



Falsificações



A FDA também alertou, na última semana, sobre a venda de versões falsificadas do medicamento Alli (da GlaxoSmithKline), que tem como princípio ativo o orlistat (o mesmo do Xenical) e comercialização livre nos Estados Unidos.



Testes de laboratório demonstraram que os remédios piratas, bastante vendidos pela internet, contêm sibutramina (que não está na fórmula original) e podem, portanto, elevar o risco cardiovascular. Exames apontaram a presença de até o dobro da quantidade máxima da substância prescrita por dia.



Os efeitos mais imediatos dessa alta dosagem são palpitações, insônia, ansiedade, náusea e aumento súbito da pressão arterial.



Editoria de Arte/Folha Imagem

domingo, 6 de junho de 2010

Quando o casamento se torna vítima do transtorno de uma criança - NYT

Lisa BelkinPesquisadores anunciaram este mês que ter um filho com autismo não aumenta a probabilidade de os pais se divorciarem. Foi a refutação da crença muito comum – mas pouco documentada – de que os esforços para cuidar de uma criança doente ou difícil costumam separar os casais.

O fato de que o divórcio não é uma norma apresenta um conforto ainda que pequeno para os casais que estão se desdobrando para atender as necessidades especiais de seus filhos. Um desses casais tem um menino de cinco anos de idade com déficit de atenção e transtorno de hiperatividade, ou TDAH, em inglês, desordem pervasiva do desenvolvimento, e psicose, entre outras coisas. Eles têm cicatrizes das vezes que foram arranhados e apanharam durante os acessos de raiva do filho.

O menino, que tomou vários remédios por muitos anos, já foi expulso de uma escola terapêutica destinada a crianças com todos os tipos de dificuldades. A mãe costuma escrever sobre a história da família no site hopefulparents.org, identificando-se como “cms8741” e seu filho como “E-Niner”.

Na manhã de segunda-feira ela escreveu sobre o próximo passo que se apresenta para a família. Ela e os editores permitiram que eu reproduzisse seu texto aqui. Chegou a hora para eles decidirem se colocar o filho num hospital psiquiátrico residencial irá destruir a família ou salvá-la.

“Amanhã marca o primeiro dia de um novo capítulo da nossa vida familiar: é o dia em que eu vou pegar o telefone para lembrar à neuropsicóloga do meu filho, como ela pediu, para telefonar no primeiro dia de junho para que ela possa marcar uma avaliação quase anual de E-Niner.

O que torna essa avaliação diferente de qualquer outra que ela já fez com ele – e o motivo pelo qual amanhã marca um novo capítulo de nossa vida – é porque ela fará esta rodada de testes com o propósito de encaminhar o caso de meu filho para tratamento num hospital psiquiátrico.

Antes disso, nós ficamos muito tempo nos perguntando sobre a possibilidade, talvez, de considerar colocar meu filho num ambiente fora de casa. Amanhã, indireta mas substancialmente, o processo começa começará rápido e difícil. É mais uma etapa do caminho.

Eu consegui chegar à uma espécie de aceitação do fato de que meu filho precisa de cuidado psicológico 24 horas, do tipo que não pode ser oferecido num lar, não importa quantos auxiliares nós contratemos para ajudá-lo. Eu acabei decidindo que se meu filho deve viver em algum lugar por tempo indeterminado, todos os membros de nossa família – incluindo nosso filho de 4 anos – nos sentiremos mais como, digamos, indivíduos do que como peças da engrenagem da doença psicológica de meu filho.

Entretanto, o que eu não posso prever é se esse passo irá estilhaçar nossa família em cacos tão pequenos, distantes e separados que não seremos capazes de nos recuperar. Ao mesmo tempo, não posso prever se o “status quo” não fará a mesma coisa. Parece que nosso casamento está por um fio. Nós fomos atirados na correnteza, e talvez o único caminho seja o choque.

Meu marido não quer colocar E-Niner num hospital. Embora todos os quatro avós de E-Niner, seu professor, a equipe de tratamento em sua escola terapêutica, a equipe de tratamento de sua antiga escola terapêutica, sua psiquiatra, seu terapeuta, o assistente social da família, seu enfermeiro, seu pediatra, e sua própria mãe acreditem que E-Niner receberá o cuidado de que necessita nesse contexto. Parece que o mundo inteiro está contra meu marido...

Eu o tenho evitado, e vice-versa, há várias semanas. O que eu não percebi foi que talvez durante os últimos meses, ele não estava mais falando comigo. O fato de não perceber que meu marido não estava falando comigo mostra o quanto disfuncionais e perdidos nós estamos. Agora, sinto como se estivéssemos numa espécie de duelo de faroeste; que nos afastamos vinte passos um do outro e sacamos nossas armas. Um movimento em falso, um movimento do pulso, e alguém atirará que nem louco. Em outras palavras, as coisas estão tensas.

O problema é, eu não acho que o alívio chegará tão cedo. Na verdade, depois do telefonema de amanhã, as coisas só ficarão cada vez piores. Será que chegará o dia em que um hospital abrirá uma vaga? Será que meu marido vai se sentir obrigado a aceitar a vaga, e depois decidir separar nossa família no final? Será que eu seguirei o desejo de meu marido, esmagando minha própria sensação do que é absolutamente certo e necessário para E-Niner, e depois reverter a situação do nosso casamento? Será que eu é que deixarei de falar com ele por meses a fio? E depois nosso casamento finalmente chegará ao fim? Será que o casamento já está se dissolvendo, bem na frente dos meus olhos?

Estou vivendo um dia de cada vez. Mas quando olho em volta e percebo as possibilidades, nosso caminho parece muito desanimador nesse momento. Como diz o ditado, alguém tem que ceder."

Tradução: Eloise De Vylder - UOL

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Na alegria e na tristeza - revista istoé

Casais que conquistaram o sonho do casamento feliz mostram como escaparam da rotina e dos conflitos que ameaçam o amor

BRUNO WEIS





Quando se olharam pela primeira vez, bateu. No lobby do hotel Maksoud Plaza, em São Paulo, onde estava hospedada, a atriz Malu Mader sentiu que algo de muito importante ia acontecer entre ela e um rapaz que ela nunca tinha visto antes. "Nem sabia que ele era o guitarrista dos Titãs, mas foi muito mais que amor à primeira vista", lembra Malu, 33 anos. Tony Bellotto sabia que ela era a atriz famosa. "Não podia imaginar que ela se interessaria por mim. Era muita areia para o meu caminhãozinho." Levou um ano até que eles se declarassem e ainda alguns meses até que fossem viver juntos. Dez anos depois, eles são marido e mulher, pais de dois meninos.



A relação entre Marta e Eduardo Suplicy começou com uma paixão avassaladora e manobras de sedução nada ortodoxas. Para atrair a atenção de Eduardo numa festa em que ele parecia meio distraído, Marta mostrou que já era uma mulher de atitude. Jogou Eduardo na piscina. Depois de recuperado de uma tremenda gripe, ele a pediu em namoro. Eles estão casados há 35 anos e têm três filhos. Numa conversa com amigos, há semanas, quando se discutia se a exposição diária na mídia quebra o encanto da imagem de Marta, Eduardo galanteou: "Para mim, a exposição diária não reduziu em nada o encanto dela." Como Malu e Tony, Marta e Eduardo realizaram um sonho que tantos homens e mulheres perseguem neste final de século: ter uma relação duradoura e feliz.



Chama do namoro Desde que a velha moral voou pelos ares com a revolução sexual dos anos 60, ninguém mais é obrigado a engolir para sempre o fracasso conjugal. Mas um amor mais forte que o tempo, desejo geral, ainda é privilégio de poucos. A maioria naufraga em algum momento da vida a dois, sufocada por dificuldades até banais, mas insuportáveis. "As relações fracassam quando as pessoas não conseguem se libertar dos mitos que levam para o casamento. Elas passam a interpretar todos os gestos do parceiro como confirmação de seus velhos medos e opiniões e se decepcionam", explica a terapeuta de família Thai Castilho, de São Paulo. Sem conseguir entender que o verdadeiro motivo de suas decepções não está no parceiro, elas começam a querer mudá-lo, criando novas dificuldades. Thai observa entre seus pacientes pouca disposição de lutar. "Os casais mais jovens aceitam mais facilmente a idéia da separação, até mesmo diante de dificuldades momentâneas", diz Thai, para quem um pouco mais de persistência faria muito bem a casamentos em crise.



Entre as pessoas de sua geração, os nove anos de casamento de Tony Bellotto e Malu Mader parecem uma façanha. "Nossa união dura porque se transforma. A gente está atenta para evitar ciúme, picuinhas e comportamentos que se tornam cânceres da relação", diz Tony, 38 anos, músico e escritor, que já tinha se casado uma vez e tem uma filha, Nina, de 17 anos, que mora com ele no Rio de Janeiro. "No nosso casamento é fundamental estar junto, trocar idéias e, principalmente, sexo. Senão é amizade", diz o autor dos romances policiais Bellini e a esfinge e Bellini e o demônio. Malu não acredita em certo ou errado em relação a dois. Por isso deixa claro que não pretende dar receitas. "Nosso casamento não é tradicional, estilo família entediada na sala, vendo televisão. No fundo, nossa sorte é que nos amamos muito e isso deixa a chama do namoro acesa", descreve.







"Lá vem a crise" Malu acredita que a liberdade entre os dois é um aspecto básico da relação, mas admite que o ciúme é uma dificuldade a ser encarada. "Sei que ele é lindo e que não sou a única que acho", diz. Segundo Tony, a vida atribulada dos dois acabou dando uma contribuição positiva ao casamento. "A correria e as viagens ajudam mais do que atrapalham porque ficar longe também é importante. Depois de uma turnê, eu esqueço as mesquinharias da relação e só quero ficar perto, junto", diz o músico. A chegada das crianças, João, três anos, e Antônio, um, também transformou a relação. "Eles mudam o ritmo da nossa vida. Sobra pouco tempo para um jantar a dois ou para namorar na hora que der vontade", diz Malu, que sempre procura cavar um espaço em sua agenda apertada para ficar a sós com o marido. Mas ela se sente recompensada: "Ver os filhos crescer e cada vez mais se parecer com o homem que amo é o máximo", derrete-se Malu. Ela garante que eles nunca tiveram uma crise. "Parece incrível, mas a gente até brinca, quando discute: lá vem a crise", ela conta.



Juntos há 35 anos, é natural que Marta e Eduardo Suplicy já tenham enfrentado muitas crises, mas souberam passar por todas. "A vontade de estar junto e saber ceder são muito importantes", diz Marta. Ela abriu mão de seus interesses profissionais para ficar com o marido quando ele foi para os Estados Unidos fazer mestrado. "Eu não queria ir, mas acabei concordando, pois era um momento importante dele." Anos depois, foi a vez de Eduardo mudar de planos para satisfazê-la. "Ele queria concorrer à Prefeitura de São Paulo no ano 2000, mas depois do sucesso da minha candidatura na última eleição mudou de idéia. Percebeu que eu mereço", conta a ex-candidata a governadora de São Paulo.



Marta e Eduardo reconhecem que às vezes existe competição entre marido e mulher, mas conseguem administrá-la. "É claro que é difícil. Quando o PT me chamou para disputar a eleição no ano passado, o Eduardo se abalou, ficou uns quatro dias quieto, fechado, até me dizer que era a hora de ele me ajudar. E ele me ajudou muito", reconhece Marta. Saber ver uma situação de outro ponto de vista além do pessoal é uma boa maneira de sair de um impasse e exercer a cumplicidade.



O risco da perda Na opinião de Marta, há uma coisa mais importante do que a cumplicidade: o tesão. "Quando não há atração não é possível continuar." Para isso, ela acredita que as pessoas precisam do risco da perda – saber que o parceiro não está garantido para sempre. "No meu caso, sei que o Eduardo é desejado por outras mulheres e eu trato de seduzi-lo. Ele também sabe que eu sou atraente e faz o mesmo. É importante existir esse risco", avalia Marta, que relativiza a importância da fidelidade. "Nem sempre é fatal. Depende de como o casal encara a situação. Eu já vi casamentos acabarem por uma simples troca de olhar e outros resistirem quando a infidelidade acontece mesmo."



Um relacionamento longo é questionado muitas vezes, como sabem Antônio e Malu Gimenez, ambos de 46 anos, de São Paulo, que comemoraram em novembro último suas bodas de prata. "Se estamos juntos, é porque os momentos gratificantes pesaram mais do que as crises", afirma o geólogo Antônio. "Fiquei muito contente com a data. Tinha uma expectativa muito grande de completar 25 anos de casado." Para Malu, uma das situações mais delicadas foi quando o marido se ausentava de casa com muita frequência, por causa de trabalhos de campo, e isso a obrigava a cuidar dos filhos sozinha. "Ao longo de uma relação, há períodos de mais proximidade e outros de afastamento. O que é intolerável é a indiferença", ela acredita.



Encarar os problemas foi, para Malu, dona de uma loja de paisagismo, o segredo de terem continuado juntos. "Não escamoteamos nada e até procuramos ajuda de uma terapia de casal", conta. "Ao resolver as brigas não deixamos nada acumulado, minando a relação", diz Malu Gimenez. E completa: "Minha geração tinha um discurso muito libertário, mas uma atitude conservadora diante dos problemas. Continuávamos a disfarçá-los. Foi preciso esforço para mudar." A psicoterapeuta Márcia Ceconello sublinha a importância de que cada um saiba exprimir as suas carências, em vez de esperar que o parceiro adivinhe. "Esta é uma responsabilidade individual", explica a especialista.







Molecagem Casar nunca tinha passado pela cabeça da atriz e apresentadora Bruna Lombardi, 44 anos. Nem mesmo quando conheceu seu marido, Carlos Alberto Ricelli, 51 anos, durante as gravações da novela Aritana, 20 anos atrás. "Achei que fosse dar em nada, no máximo uma aventura. E a mágica da nossa relação é que o espírito de namoro continua até hoje. Juntos, somos quase moleques", afirma Bruna, que teve com Ricelli o garoto Kim, 16 anos. O ator afirma que o relacionamento se sustenta em amor, tesão e admiração. "Eu torço por ela, gosto de sua presença e sinto falta dela quando estamos longe", afirma ele, para quem a paixão não esfria com o tempo. "Ela não é substituída, é somada a outros sentimentos, como amizade." Vivendo a maior parte do tempo em Los Angeles, nos Estados Unidos, Bruna e Ricelli vivem um modelo tradicional de relação. "Nunca pensamos em morar em casas separadas. Dormir junto, de pernas entrelaçadas, é uma das melhores coisas do casamento", comenta a atriz.



Bruna e Ricelli pertencem a uma categoria de casais que, segundo o psicanalista Fábio Herrmann, dão certo porque têm interesses e projetos comuns e que, mais do que qualquer outra coisa, se divertem juntos. "Certamente o sexo também colabora para a manutenção da relação, especialmente quando é redescoberto. Quando somos jovens comemos no McDonald’s, depois sofisticamos nossos pratos. É importante um refinamento do gosto sexual, partilhando fantasias e cultivando-as." A culpa pela falta de tesão vai cair muitas vezes na ação anestésica da rotina e do stress. A acusação é injusta. "A rotina só mata o desejo se o casal não proteger as fronteiras de sua intimidade. Se a família e o trabalho invadirem esse território, o desejo morre soterrado", diz a terapeuta Thai Castilho.



Projetos pessoais O risco do divórcio também existe se a realização pessoal não tem fontes fora do casamento. Só a felicidade conjugal depende exclusivamente dos dois envolvidos. "É preciso que o casamento não seja a única coisa importante na vida de cada um, apenas uma faceta", acredita Teresa Fittipaldi. Ela e o piloto Emerson Fittipaldi estão juntos há 14 anos e apenas em 1995 oficializaram a união, quando realizaram uma cerimônia no Vaticano. Teresa usou véu e grinalda e o casal foi abençoado pelo papa. "O engraçado é que na minha época a gente era criada para casar, e a mulher se apoiava na figura do marido, como se sozinha não fosse auto-suficiente", lembra Teresa. Para Emerson, os momentos de crise existem e devem ser superados com a ajuda dos dois. "Todo casamento tem altos e baixos." O médico Sérgio Bettarello, do instituto de psiquiatria da Universidade de São Paulo, reforça a visão de Teresa. Para ele, os casais que delimitam a importância do casamento têm mais facilidade de continuar juntos. "O problema é fazer do matrimônio o lugar de realização de todos os projetos individuais dos cônjuges."



Interesses e projetos pessoais podem não ser atravancados pelo casamento, mas a escolha de viver ao lado de uma pessoa implica renunciar a outras relações. A filósofa Terezinha e o jornalista Fernando Rios, ambos de 55 anos, estão juntos há 34 anos e nunca pensaram em provar relacionamentos paralelos. "Pode ser muito doloroso. E, se deixamos de viver outras experiências, temos a recompensa de poder ser totalmente abertos um com o outro, e construir uma profunda intimidade", avalia Terezinha. Seu marido atribui a duração do casamento a um outro fator: "Quando casamos, dissemos que não era para sempre. Tirar essa expectativa foi ótimo pois a escolha não presume a eternidade", diz. "Outra coisa é que administramos os contrários, sabemos que nossos pontos de vista, diferentes em vários assuntos, tornam a relação mais rica", completa Fernando. Ele gostar de música atonal e ela de new age nunca os impediu de desfrutarem juntos dezenas de prazeres como sair com os amigos, conversar sobre trabalho e dançar. "Isso se deve a um respeito muito grande e a vários interesses comuns", acredita Terezinha.



Ao se falar de casamento, há quem aposte que a expressão "instituição falida" caia em desuso no próximo século. Para esperança geral, também têm surgido ingredientes favoráveis à felicidade a dois. Nos anos 90, a emancipação financeira mais tardia dos jovens, a mentalidade mais aberta que não obriga a casar quem deseja apenas sexo e afeto, além da própria discussão da viabilidade do casamento, têm favorecido escolhas e decisões mais bem-fundamentadas. "Por tudo isso, e principalmente pela emancipação da mulher, não se casa mais no automático", diz o psiquiatra Sérgio Bettarello.





Colaboraram: Gisele Vitória, Marta Góes (SP) e Valéria Propato (RJ)













Como fazer amor com a mesma pessoa por toda a vida...

...e continuar gostando









VALÉRIA PROPATO





Que casal resistiria a título como esse? O livro de auto-ajuda da psiquiatra americana Dagmar O’Connor é um sucesso nos Estados Unidos e no Brasil vai para a 14a edição. Diretora do Programa de Terapia Sexual do St. Luke’s-Roosevelt Hospital Center, nos Estados Unidos, a psiquiatra, que trata há mais de 15 anos de melhorar a vida de casais infelizes na cama ensina como combinar relações duradouras com sexo dinâmico.



ISTOÉ – Há quem diga que sexo e casamento são incompatíveis...

Dagmar O’ Connor – Trabalhar o dia todo e ainda cuidar dos filhos e da casa podem matar o desejo. Mas não se deve culpar o casamento. O sexo é algo que devemos fazer acontecer. Ficar uma noite na cama com o parceiro é um bom começo. Se haverá sexo não importa. O fundamental é dedicar tempo ao outro. Os casais também precisam deixar de se tratar como "papai"e "mamãe" e voltar a ser amantes.



ISTOÉ – Qual é o primeiro mandamento do sexo no casamento?

Dagmar – Muitas pessoas acreditam que é o "dar e partilhar". Eu sugiro que elas tentem ser mais egoístas. O sexo egoísta é o melhor caminho para a satisfação plena. Dois egoístas na cama conseguem tudo o que desejam.



ISTOÉ – Como são os exercícios que a senhora ensina?

Dagmar – Na primeira lição, o casal se acaricia alternadamente durante 45 minutos. Os seios e os órgãos genitais não devem ser tocados e é preciso resisitir à tentação de retribuir carícias. Nada de orgasmos. Deve-se apenas relaxar e sorver os carinhos. O objetivo é desaprender os mitos que impedem o prazer e que nos colocam numa competição sexual, preocupados com desempenho, em vez de assumir nossas inibições naturais.



ISTOÉ – Romances extra-conjugais ajudam a esquentar o casamento?

Dagmar – Não quero dar aqui um depoimento moral. A infidelidade não acontece gratuitamente; ela geralmente tem a ver com as inibições e fantasias do parceiro infiel. Não tem nada a ver com o parceiro traído. E nos faz perguntar por que estamos casados. Tem quem ache ideal ter família e parceiro fixo de um lado e o sexo excitante do outro. Essa teoria não funciona na prática. A experiência dos anos 60 e 70 com casamentos abertos fracassou. Hoje, a opção mais natural ainda é o relacionamento de compromisso. Resistir à tentação não é tão impossível. Se aplicássemos metade do nosso tempo e energia gastos em relacionamentos extraconjugais para tornar a vida de casado mais excitante, teríamos a confiança de um relacionamento contínuo e a emoção e a aventura de um caso.



ISTOÉ – O que fazer quando um dos parceiros não tem vontade de fazer amor?

Dagmar – Deve-se conversar e aprender a ouvir os sentimentos do parceiro, em vez de se defender ou julgar o outro.









Uma pessoa, um universo erótico





"Nosso casamento dura porque há muito afeto. A gente se ama, se gosta, se respeita, é cumplice, enfrenta tudo junto. Há lealdade e necessidade um do outro. A gente sente que sem o outro não opera. A fonte do prazer tem que jorrar. É importante ter projetos juntos. A Flora participa muito do meu trabalho, somos muito unidos. Quando essas coisas deixam de existir, a fonte de prazer seca.



Acho que o casamento é uma forma de eleição. Você elege aquela pessoa para representar o todo, o universo erótico, as suas fantasias. E você tem que ser parcimonioso. Admitir a vida toda contida naquela pessoa. No casamento, há uma troca simbólica. Troca-se o simbolismo da variedade pela qualidade. Você não precisa da superabundância. Também tem que aceitar as imposições do tempo. O tônus muscular dela vai modificar e o teu também. É preciso aceitar essa mudança no tempo e no espaço dos dois.



Acho que o casamento é a busca de unidade e ela, a unidade, passa a ser constituinte do seu parceiro. E tem que estar sempre alimentando. Eu e Flora nunca nos separamos e brigamos muito poucas vezes. Acho que tem que ter humildade para superar as crises. Eu digo sempre que os erros são meus porque, mesmo que ela esteja errada, o meu aborrecimento é um problema meu. Eu tenho que perdoar. Se você não souber amar a pessoa mais próxima, como vai amar os outros?



Há períodos em que um está mais a fim de sexo do que o outro. Eu tenho uma música que diz assim: "A gente ama e o amor produz transformações. Novos desejos vão tornando nossos beijos mais azuis, menos carmim." Porque uma pessoa de 56 anos tem que ter uma performance de 26? Seria absurdo. O desempenho sexual exuberante vai dando lugar à qualidade. Para mim, sexo tem que ser cada vez mais simples, mais inteiro, penetrar na alma."



O pecado capital do casamento é abandonar a relação a dois. Os dois têm que estar em tudo. Não pode esquecer que existe a unidade.





GILBERTO GIL



56 anos, casado há 19 anos com Flora, 37.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Usar laptop ou iPad à noite pode provocar insônia - por Veja

Um estudo americano relevou que usar o laptop antes de dormir não é uma boa ideia. Isso porque dispositivos que emitem luz forte, como os notebooks ou iPads, podem provocar insônia.



De acordo com a pesquisa, tais aparelhos "enganam" o cérebro humano. As luzes fazem com que o corpo acredite que ainda é dia - e os padrões cerebrais que indicam que é hora de dormir acabam por ser modificados. Dessa forma, o sono vai embora.



Especialistas explicam que o relógio biológico do corpo geralmente começa a emitir sinais de sono por volta das 21h ou 22h. O cérebro humano é programado para se manter acordado e atento durante o dia, quando há luz do sol. Quando começa a anoitecer, o cérebro passa a produzir o hormônio melatonina, responsável por regular o sono.



Ao ter contato com a luz azul emitida por dispositivos como o iPad, por exemplo, esse padrão cerebral é alterado e o corpo passa a entender que ainda é dia. Os olhos humanos são bastante sensíveis à luz azul, que é comum durante o dia, mas rara à noite. Quando o corpo percebe essa iluminação, envia ao cérebro uma mensagem para bloquear a produção de melatonina.



Segundo os especialistas, ler um livro é muito melhor para assegurar uma boa noite de sono. Mesmo que seja necessário acender a luz para ler, as lâmpadas comuns não provocam esse efeito negativo no cérebro, já que não entram diretamente nos olhos. Ter uma televisão no quarto também não atrapalha demais o sono, já que a luz é emitida a uma certa distância.



"Se você usa o iPad ou o laptop perto da hora de dormir, a luz emitida será suficiente para estimular o cérebro a mantê-lo mais acordado", explica Phyllis Zee, neurocientista e professor da Northwestern University. "Seria melhor que as pessoas simplesmente lessem um livro entediante na cama", brinca Alon Avidan, um dos diretores do Centro de Distúrbios do Sono da Universidade da Califórnia. "E certifique-se de que não está muito claro. A luz deve ser suficiente apenas para permitir a leitura".